quarta-feira, 4 de maio de 2011

Como cobrar: Uma dúvida constante na vida do jovem advogado.

                Então, parece brincadeira, mas acredito que não sou a única jovem advogada que fica entre a cruz e a espada quando chega a hora de cobrar.
                Para quem não sabe, a OAB tem uma tabela de preços mínimos que temos por obrigação ética cobrar pelo menos o que ela prevê. Claro,  no momento de cobrar temos que verificar diversos fatores, tais como a complexidade da causa, poder aquisitivo do cliente etc e tal.
                Ocorre que É SEMPRE DIFÍCIL. Sempre, sempre mesmo! Principalmente quando espalharam por aí essa cultura abominável de que advogado só ganha ($) se no final da demanda sair algum dinheiro. Ou seja, “todo mundo” acha que o advogado é obrigado a SEMPRE estabelecer um contrato de risco.
                Imagina se o médico só cobrasse no final do tratamento, caso o paciente ficasse curado.  Imagina se o padeiro só cobrasse depois que você dissesse se gostou ou não do pão.  Todo mundo pode cobrar pelo seu trabalho sem ser xingado de ladrão, mas o advogado quando diz “é tanto” parece que tá espancando alguém ou lhe surrupiando a carteira.
                Bom, para quem não sabe, um processo demanda muuuuuuito trabalho. São petições, observação rigorosa de prazos, audiências. Idas e vindas ao fórum. Diligências. PACIÊNCIA perdida quando o cliente liga querendo saber do processo e reclamando porque não ligamos para ele para avisar que o processo “tá na mão do juiz, saiu da mão do juiz”. É sério! Se houve recurso, se o juiz pediu alguma informação, etc o cliente não pode fazer absolutamente nada, se for necessário, o advogado procurará o cliente. Uma coisa é certa: Quando necessário, o advogado procurará o cliente. NÃO, não esquecemos, ou pelo menos eu não esqueço de um processo, apenas é humanamente impossível lembrar de todos. Quando precisa-se lembrar de algum, uma coisinha chamada diário de justiça, o jornalzinho que leio todos os dias, me avisa. Ok?!
                Enfim, são meses de duro trabalho que PRECISA ser remunerado,ok?! Ou vai dizer que você trabalha de graça?! Se sim, me passa seu contato,  quando eu precisar já sei quem procurar! O que quero dizer com isto?! Gente, nem sempre o advogado ‘só recebe a grana quando ganha’. Isso é mentira! É coisa do anjo mau inimigo dos advogados! Não caiam nessa!
                Outro dia, em uma ação de exoneração de alimentos, o papai me perguntou: ’Dotôra’, lhe pago quando a gente ganhar, né?! Eu, prontamente, respondi: Não! O senhor me paga agora, ou posso lhe dar um prazo de até 15 dias, caso o senhor não tenho os valores agora. É fogo, viu?! Deu vontade de jogar ele pela janela do escritório e perguntar depois de foi bom para ele. SACO!
                Olha, as vezes é possível e até vantajoso estabelecer um contrato de risco.  Contudo, porém, todavia, as pessoas têm de entender que a atividade da advocacia é uma atividade de MEEEEEEEIO. “O que é isso ‘dôtora’?” Gente, o advogado é obrigado a ser o mais diligente e zeloso possível quando estiver atuando em uma causa (sim, eu me desvisto da modéstia para dizer que isto eu sou...rsrs), mas, JAMAIS, NUNCA vamos poder garantir o resultado.
                De fato, é possível, em algumas demandas, observando o posicionamento dos tribunais, a ‘qualidade do direito’ do cliente, prevê um resultado. Mas, essa historinha de ‘causa ganha’ é balela. Não acredito nisso. Acredito em um bom direito e na grande possibilidade de êxito.
                Então. Eu tenho me baseado muito pela tabela da OAB, mas, devo confessar que as vezes fico na dúvida. Tenho medo de cobrar demais. Mas, sabe o que é pior?! Descobri recentemente que cobro de menos. Isso pode?! Fiquei REVOLTADÍSSIMA! Não! Eu não menosprezo nem desvalorizo o trabalho do advogado. Eu sei exatamente o quanto é trabalhoso ser advogado e a nobreza de nossa profissão. É que, por pura falta de experiência, confesso que até mesmo por um sentimento de pena, dó, compaixão, ‘seiláoque’, eu NÃO ‘queria explorar’. Qual não foi a minha surpresa ao descobrir que EU ESTAVA SENDO EXPLORADA?! Geeeeeente! É sério! Rsrs
                Bom, mas é isso aí. Acontece! Vivendo e aprendendo. Advogando e se tornando cada vez mais advogada.
                E nunca esqueça: Mesmo que você seja advogado, é possível ser feliz!

Um comentário:

  1. É fogo essa cultura imposta. Só fazendo uma comparação: em qualquer consulta que a gente faça com um médico, dentista, nutricionista etc. pagamos, até porque "tomamos o tempo" do profissional. Por que com o Advogado a "consulta" tem que ser de graça e só podem ser pagos ao final do processo? Por acaso o Advogado não se alimenta, não se veste, não tem contas a pagar? É preciso mudar esse pensamento...
    Flávia Tavares

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