terça-feira, 26 de abril de 2011

Consulta por telefone: Um mal constante na vida do jovem advogado.

Então, o tema de hoje é inspirador. Quase todos os dias tenho uma (não desejada) inspiração deste tipo.
Depois de quase 01 ano advogando (sim, no próximo mês de agosto eu terei 01 ano de OAB, o que me faz lembrar que tenho uma anuidade para pagar. Trágico!) os meus cartões já rolam na mão de muita gente. Meu pai, meu maior divulgador, entrega-os a qualquer ser que respire. Daqui uns dias acredito que vai bater na porta do escritório um chimpanzé querendo fazer um exame de DNA para comprovar sua semelhança genética com os seres humanos e pleitear algum benefício assistencial para o INSS.
Isso tudo tem seu lado positivo, não posso reclamar! Os clientes surgem e isso é muito bom (clientes, amo vocês!). Contudo, porém, todavia o lado negativo é bastante irritante: o surgimento exasperado de ‘consultas por telefone’.
Geeeeente, é sério! Imagina você estudando, apreciando um bom livro de Direito Constitucional, naquele clima de romance que rola entre um constitucionalista e José Afonso da Silva – antigo, mas fantástico – e de repente o telefone começa a vibrar. Tenso. Medo. Devagar, com gestos sutis, pego o celular, olho o visor. É um número que não está na agenda do fone. O coração bate que nem uma escola de samba (essa parte é exagero). Aperto o botão verde, do outro lado alguém com voz desconhecida diz: “Alô! Dra. Danielly?!” Pronto! Me ferrei! É chamar de Doutora e eu logo sei que algo vai acontecer. Respondo: “Sim, sou eu”.
Bom, a partir daí sempre vem uma pergunta que começam com frases do tipo: Dra., é que a irmã de uma amigo meu..., Dra., é que uma prima do meu vizinho...
Ok! Tudo bem! Respiro e tento ser o mais educada que uma pessoa irritada e interrompida em um momento de prazer pode ser. Na medida do possível, tento responder a dúvida da pessoa do outro lado da linha.
Agora, eu desço do salto quando o indivíduo, além de me interromper, ligar em horário inoportuno e ainda pedir consulta 0800 (por que ele não pede ao médico também?), quando este ser do outro lado da linha diz: “Mas, dra., fulaninho, meu vizinho, resolveu o problema dele, igualzinho ao meu, em ‘x’ tempo!.
Ei, é sério! A minha vontade é dizer: “muito provavelmente seu vizinho fulaninho deve ter ajuizado a ação dele no Poder Judiciário de Marte, porque tenho certeza que, pelo menos aqui no Brasil não foi”. Porém, como tenho que manter a compostura (sim, tratar as pessoas com urbanidade é um dos deveres éticos do advogado), eu respondo: “Ok! Então procure o advogado do seu vizinho fulaninho. Passar bem! Tu...tu...tu”.
Sabe o que é engraçado? Eles nunca procuram, sempre voltam! Aí eu aproveito e digo a frase que mais gosto de falar: AGENDE UM ATENDIMENTO NO ESCRITÓRIO. LÁ, EU TEREI O MAIOR PRAZER DE LHE ATENDER!
Bom, é isso aí! Amanhã será mais um dia de peripécias. Em audiência quase sempre tem peripécia.
Uma boa noite e uma semana agradabilíssima e cheia de peripécias para todos nós!

Nunca esqueça: Mesmo que você seja advogada, ainda é possível ser feliz!

domingo, 24 de abril de 2011

Início de semana de uma jovem advogada

O fim de semana é um verdadeiro oásis para os jovens advogados. Nele podemos descansar. Se bem que quando se advoga em comarca pequena, é meio difícil ter um descanso 100%, pois sempre há aqueles que acham que você tá disposto a acordar cedo no sábado e oferecer uma consultoria no módico valor de “0800”.
Pela graça do Bom Pai estive livre disto neste fim de semana prolongado. Se bem que ainda recebi uns documentos que deveriam ser me entregues no meu escritório, após marcarem um horário, porém, parece que quanto mais eu digo que NÃO ATENDO EM CASA ou SÓ ATENDO COM HORÁRIO MARCADO, mas os clientes não compreendem, parece até que estou falando a língua dos Elfos.
No domingo geralmente reservo um tempinho para organizar a agenda. Nem fiz isto hoje. Deu preguiça. Amanhã já sei que vou sofrer no início da manhã, pois tem cliente marcado e algumas idas aos fóruns inadiáveis.
Fórum em dia de segunda-feira é um tormento. Pior ainda é dia de segunda-feira pós feriadão. Você é quase que massacrado por inúmeras caras feias que desejam profudamente que você suma dali, seja abduzido, morto, açoitado, qualquer coisa, mas não leve mais trabalho para eles. É sério! Tenho medo, não vou mentir. Pior ainda é que SÓ você TEM que tratar todo mundo bem, sorrir como se estivesse passeando um lindo campo florido e de repente o Príncipe William (aiai...nem acredito que ele vai casar) aparece de uniforme militar e te entrega um lindo buquê de flores. Reciprocidade? Reciprocidade ZERO, querido!
Acho que pior que ir ao fórum na segunda-feira pós feriadão é atender cliente-família na segunda-feira pós feriadão de manhã. Gente, é sério! Amo minha família, mas cliente-família é uma espécie de penitência imposta e inegável! Você não pode negar atendimento a este tipo de cliente, nem muito menos pode cobrar. É mole? Se por acaso você faz alguma destas coisas, você nunca mais é convidado para almoço de família, festas de niver, casamentos etc. É, como dizia minha avó, estar no mato sem cachorro!
Bom, por sorte eu também não vou ter audiência na segunda-feira, o que seria um outro tormento. Acordar cedo, se fantasiar de advogada, ir ao fórum, procurar a sala de audiências, esperar que o cliente desatento chegar e ficar perguntando quando sai o dinheiro (owww...se eu soubesse), observar o cliente ficar encarando o advogado da outra parte como se estivesse em uma guerra medieval e ainda ficar com raiva quando conversamos com o outro advogado de maneira Cortez e gentil.
Amanhã será um novo dia, apesar de ainda não ter organizado a minha agenda, espero realizar tudo que tá na cabeça pra fazer. Também desejo uma ótima semana para todos!

Nunca esqueça: Mesmo que você seja advogado, é possível ser feliz!

sábado, 23 de abril de 2011

Jovem advogado x dinheiro: relação tormentosa

Pois bem, ao som de um forró de plástico que não consigo identificar quem canta (nem me esforço para isto) que minha vizinha faz questão de compartilhar comigo, mesmo sem eu apreciar este tipo de música, decidi escrever sobre uma relação complicada: Jovem advogado x dinheiro.
Quando você se forma “advogado” todo mundo acha que você tá nadando em grana. As pessoas pensam que quando você recebe a OAB um ser celestial protetor dos jovens advogados deposita em tua conta no mínimo uns R$ 1.000.000,00. Acontece que não é bem assim, apesar de eu desejar muito que fosse assim que acontecesse, quando recebemos a OAB ganhamos juntos o 'ius postuland' e mais um credor feroz, que anualmente nos cobram para permitir que trabalhemos.
Hoje em dia os jovens advogados quando se formam, geralmente, optam por seguir dois caminhos: 1) Decidem trabalhar em algum escritório; 2) Montam seu próprio escritório.
Quem decide trabalhar em algum escritório, geralmente tem uma rotina de trabalho que varia entre doze a treze horas diárias, fazem em média 400 audiências por dia e ainda levam trabalho para casa. Você deve estar pensando: Nossa! Então o advogado deve ser muito bem remunerado. PEGADINHA DO MALANDRO! Não! Não são bem remunerados! Ganham pouco e trabalham muito. No final das contas sobra mês no fim do dinheiro.
Já quem monta seu próprio escritório vive uma situação pior. Geralmente, no começo paga para trabalhar. Paga aluguel, energia, telefone, internet, material de escritório, transporte... O pior de tudo é que os clientes acham que no teu quintal emana uma fonte de dinheiro. SÓ PODE! Não querem pagar, fazem cara feia.  P*RR*! Se quer serviço de graça vai procurar a defensoria (“Não, Dra.! O adEvogado público é demora demais), pois eu TENHO inúmeros credores ferozes que não perdoam um dia de inadimplência!
Eu decidi montar meu próprio escritório.  E em menos de 01 ano de exercício da advocacia já me deparei com situações engraçadas.  Deveriam ser relatadas no post “clientes malas”, mas eu vou relatar aqui para vocês terem noção de como os clientes imaginam que mesmo sem eles pagarem o advogado é sempre cheio da grana
Certa vez decidi fazer uma caridade e aceitei atuar em uma causa sem cobrar, fiz apenas um contrato de risco. Acontece que a cliente mora em uma comarca distante da do meu escritório e sempre alugava um carro para trazê-la (porque ela não vinha de ônibus eu não sei). Certo dia, ela trouxe o irmão dela para o atendimento. Após a consulta, a assinatura da papelada etc e tals, o irmão da cliente olha para mim e diz:  - Dotôra, a senhora pode nos ajudar com o pagamento do táxi?!
Sério, cara! Nesse momento deu uma vontade infeliz de jogar aquele homem pela janela do escritório, que fica no primeiro andar, pelo menos para ele quebrar uma perna. Gente! COMO PODE?!Ele queria mesmo que eu pagasse a ele para trabalhar?! ISSO EXISTE?! Respirei fundo e disse: - Senhor ‘fulaninho’, infelizmente não posso pagar para trabalhar. Já estou ‘pegando’ a ação de vocês sem cobrar nada, não posso pagar para fazer isso. O detalhe interessante é que os ditos clientes me ligavam a cobrar e a noite até que um dia me enchi, atendi o telefone e vociferei: MEU SENHOR, PELO AMOR DE DEUS, NÃO ME LIGUE MAIS A COBRAR! Eu não vou lhe atender enquanto não colocar pelo menos R$ 5,00 de crédito no seu celular!
É sério, gente! A relação jovem advogado x dinheiro é tormentosa. O Jovem Advogado vive uma realidade que ninguém acredita. Todo mundo acha que vivemos nadando em rios de dinheiro. Quando na verdade, muitas vezes, vendemos o almoço para comer na janta! Hahaha
Nunca esqueçam: Mesmo que você seja advogado, é possível ser feliz!

sexta-feira, 22 de abril de 2011

A formação de um Advogado e um pequeno intróito sobre os tipos de advogados

Hoje em dia virou moda estudar Direito. São raros os que procuram o curso por vocação. A maioria deseja o ‘status’ mencionado no post anterior, que na verdade não passa de uma lenda. No final, vocacionado ou não, todo mundo acaba se formando.

Eu costumo dizer que Direito é um curso muito democrático. Você não precisa ser vocacionado a estudar Direito, qualquer um com o mínimo de capacidade interpretativa e vontade de ler estuda. Calma! Não estou menosprezando meu curso nem muito menos me contradizendo. A vocação deve sim existir para àqueles que desejam EXERCER o Direito. Juízes, Promotores, Advogados, Delegados, enfim... quem deseja exercer o Direito em alguma profissão jurídica deve sim ser vocacionado. Mas, volto a repetir, para se terminar o curso de Direito e se tornar um Bacharel em Direito, não precisa de vocação, apenas um pequeno esforço, e nem isso as vezes, já que hoje a mercantilização do ensino jurídico proporciona situações nada educativas nos meios “acadêmicos”, mas, deixemos este tema para outro post.

Com o ‘canudo’ na mão (sem duplo sentido, ok?), começa a saga rumo a OAB. Uns dizem que o exame da Ordem é inconstitucional, outros afirmam que não passam de reserva de mercado e outros simplesmente passam. Me incluo no último grupo.

Não sei o porquê dos bacharéis implicarem tanto com o exame da Ordem. Gente! É séeerio! Não tem nada demais. No máximo que pode ocorrer é alguém “muito inteligente” tentar fraudar, o exame ser cancelado e no fim os candidatos terem que fazer duas ‘segundas fases’ e serem tratados como verdadeiros idiotas marginais incapazes de passarem no exame da Ordem (qualquer semelhança com o exame 2009.3 é mera coincidência).

20% dos que fazem a prova passam no exame. São advogados! A família, os amigos, os vizinhos, todo mundo feliz porque agora você é advogado! Só que ninguém sabe que os teus 05 anos de estudo na universidade e a tua aprovação na prova da OAB não fizeram de você um ADVOGADO. Não, gente! Não fazem mesmo!

Hoje em dia estão vomitando advogados e não formando advogados. Quer dizer, não se isto é um fenômeno específico da nossa era. Eu suspeito que isto sempre tenha acontecido. Sabe por que? Porque advogado só se forma na EXPERIÊNCIA. Tudo bem que eu também suspeito que antigamente, quando só quem fazia Direito eram pessoas inteligentes, o Bacharel terminava o curso bem próximo de ser um advogado.

Bom, após a aprovação na OAB, nascem a partir daí três espécies de advogados: 1) Os vocacionados, que são divididos em outras espécies a serem comentadas em momento oportuno; 2) Os empurrados pela família; 3) Os sem opção.

Os vocacionados vou deixar para comentar depois.

Os empurrados pela família geralmente é aquele cara que queria ser músico ou antropólogo pesquisador de alguma aldeia indígena não civilizada no norte do país, mas que, pelo fato do pai ter construído um renomado escritório, acaba sendo obrigado pela família a seguir os mesmos passos do pai.

Os sem opção geralmente são aqueles concurseiros que não têm paciência de esperar “o seu dia”, se é que ele existe, ou que sabe mesmo que não conseguem passar em um concurso público e por ter uma família pra sustentar ou não ter mais tempo para mudar de profissão, acabam caindo no mundo da advocacia.
No final quase todos pensam do mesmo jeito. A grande diferença entre os dois últimos é que o primeiro sempre vai reclamar de bolso cheio e o segundo por estar cheio de trabalho.

Finalidade do Blog

O mundo jurídico é algo cheio de formalismo. Geralmente, as profissões jurídicas concedem a uma pessoa certo ‘status’. Quando me formei, logo começaram a me chamar de ‘senhora’. Eu? Senhora? Senhora é a minha mãe, minha avó, Dona Maria do mercadinho, mas, EU? Lembro-me a primeira vez que me chamaram de Doutora no fórum. Me senti estranha. Pensei: Eu? Doutora? Nem terminei a especialização!

Acontece que por trás de tanta seriedade e formalismo, existem pessoas, seres humanos que sentem medos, erram e sorriem como qualquer um.

Meu desejo neste blog é expor um pouco do dia-a-dia forense sob a ótica de uma recém advogada, às vezes com uma pitada de humor, outras vezes com indignação e revolta.

Não quero ser formalista, apesar de saber que algumas vezes não vou poder fugir de tal formalismo. Não quero e não vou infringir a ética. Relatarei meu dia-a-dia. Os fatos publicáveis e engraçados que ocorrem no início de carreira de uma jovem advogada.

Não! Este não é um blog jurídico destinado ao público jurídico! É um espaço dedicado a curiosos, amantes da justiça e das coisas simples da vida! Agora, de vez enquanto vou me permitir publicar alguns artigos e opiniões relacionadas ao estudo do Direito. Fica dado o aviso.

Sintam-se em casa!