quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Uma peripécia nada engraçada!


É! Já faz um tempo que não escrevia aqui. O que não faz muita diferença, já que ninguém ler mesmo.
Mas, aqui estou eu. Não sei até quando, mas pelo menos hoje vou relatar algo que me ocorreu por estes dias.

Quem é meu amigo no facebook pôde observar que nesses últimos dias postei algo relacionado ao péssimo atendimento do cartório de registro de imóveis da minha querida comarca de Bayeux.

Pois é. Durante os longos minutos de espera vi uma cena digamos... um tanto quanto esdrúxula.

Uma senhora de 66 anos – eu sei a idade dela porque ela berrou para todos ouvirem – se dirigiu até a escrivã do cartório relatando o seguinte fato: sua sobrinha havia trabalhado para uma determinada família durante 10 anos. Agora, ao que parece, sua patroa havia falecido e só o patrão ainda estava vivo: um senhor de 90 anos. Agora, pelo que entendi, a sobrinha da senhora de 66 anos estava querendo “os seus direitos”.

Pára (sim, faço questão de usar o acento diferencial!) aqui: Consultoria jurídica dada por escrivã do cartório de registro de imóveis?! Lembrei logo daquelas tirinhas da internet que diz: Você não está fazendo isso certo!

Primeira observação que tenho a fazer é: como o direito está distante dos mais pobres! Provavelmente, esta senhora de 66 anos imagina que a ‘dona do cartório’ sabe e pode resolver todos os problemas relacionados ao Direito.

Quando me deparo com situações assim fico imaginando o que deve acontecer com essas pessoas quando ‘caem’ nas mãos de pessoas mal intencionadas.

Pois bem. Após relato o fato, a escrivã, por sua vez, deu sua ‘consultoria jurídica’ a pobre senhora de 66 anos de idade. Querem saber qual foi o conselho (sim, foi um conselho e não uma consultoria)? Lá vai:
Escrivã:  - Por que a senhora ou sua sobrinha não casa com este velho?

Senhora de 66 anos de idade: - Não! Eu não gosto dele e nem quero dividir mais meu travesseiro com ninguém!

Escrivã: Mas, a senhora não precisa “furunfufar” até porque ele não faz mais nada. É só pra receber a pensão mesmo!

Meu Paaaaaaaaaaaaaaaaaaaai! Gente! PÁRA O TUDO! PÁRA O MUNDO QUE EU QUERO DESCER!

Primeiro: O que custava a escrivã, que é anos-luz mais esclarecida do que a senhora de 66 anos ter dito: “Olhe, procure um advogado. Caso a senhora não tenha condições de pagar um, procure a defensoria pública. Lá, eles irão lhe dar uma orientação.”?

Isso seria apenas uma questão de cidadania e solidariedade. Estaria mostrando a alguém mais necessitado o lugar correto para buscar seus direitos naquela situação específica.

O pior de tudo foi dar este terrível conselho! Gente, isso não de faz! Expôs a pobre senhora ao vexame, pois todos que estavam no cartório riram e ela saiu de lá sem uma resposta correta e ainda mais envergonhada, humilhada.

Confesso: me senti a pior das pessoas! Por quê?! Porque eu não fiz nada! Assisti a cena como se aquilo fosse normal. Não! Não era normal! Eu deveria ter oferecido ajuda, ou pelo menos criticado. Mas, não! Calada estava, calada fiquei! Não sei se por ainda ser uma jovem advogada ou se foi porque a apatia pós-moderna já atingiu meu coração.

No escritório, parei e refleti: É! Eu falhei por omissão!

Não sei se é a melhor atitude a se tomar, só sei que decidi não mais agir assim. Se isto vai me fazer ser uma advogada melhor? Não, provavelmente não. Infelizmente o conceito de ser o melhor advogado está muito longe dos meus padrões morais e éticos. Contudo, com certeza me fará ser uma pessoa melhor.


Você não sabe de quem é aquele carro!


Hoje pela manhã fui a um laboratório colher sangue (muito sangue, diga-se por sinal) para realizar alguns exames determinados por minha reumatologista.

Como ontem eu esqueci que hoje faria esses benditos exames, acabei comendo até mais tarde. Logo, só pude retirar o sangue após as 10h da manhã.

Por sorte ou azar, ainda não consegui distinguir do que se trata, cheguei quase 1h antes no laboratório. Logo fui atendida e em virtude do meu ‘esquecimento’ a funcionária pediu para que esperasse até as 10h para só depois seguir até a sala onde se retira o sangue.

Sentei naquelas cadeiras de espera e peguei uma revista. Comecei a ler uma entrevista com Lars von Trier. A história dele ao mesmo tempo em que me comovia, prendia-me a atenção.

Quando já estava no final da entrevista nas páginas amarelas da VOCÊ S.A, minha visão periférica denuncia uma pessoa entrando abruptamente no salão do laboratório.

Aquela cena me fixou o olhar. Observo que aquele homem que entrou apressado, na verdade estava irritado. Logo atrás dele observo um outro rapaz vestido com a farda do laboratório com algo que não consegui identificar nas mãos. Este também não estava muito feliz, porém, se comparado ao rapaz da frente, estava sereno tal qual uma criança em seu sono dos justos.

De repente, ouço o seguinte diálogo:

Rapaz irritado: “Não havia lugar para estacionar, estava tudo cheio. Aí, coloquei aí mesmo!”

Rapaz com a farda do laboratório: “Mas, é garagem, moço. O senhor não poderia estacionar aí!”

Rapaz irritado: “Não poderia? Deixe seu carro aí para você ver! Você não sabe de quem é este carro! Você não sabe de quem é este carro!

Quando olho para fora do laboratório através dos vidros, percebo que existe um carro, uma caminhote, que não consegui identificar modelo e marca, mas que era muito bonita e pomposa, estacionada em frente ao portão da garagem do laboratório e, logo atrás, havia um Fiat Uno branco com o logotipo do laboratório na porta.

Vejo que o rapaz irritado senta no guichê de uma das atendentes e aguarda o resultado de algum exame e a cada segundo olha para fora em direção ao seu carro. Neste instante vejo que o rapaz com a farda do laboratório dá ré no Fiat Uno.

Após receber o exame, o rapaz irritado permanece alguns segundos sentado na cadeira. Levanta-se, vai em direção ao bebedouro e va-ga-ro-sa-men-te bebe água.

Após beber a água, o rapaz irritado sai a passos lentos, entra no seu carro luxuoso e sai em uma ‘arrancada’. O barulho que ele fez parecia de um avião prestes a voar. Deu medo.

Após assistir toda a cena, começo a refletir: De quem seria aquele carro?

O primeiro pensamento que me veio a mente é que aquele carro seria de uma alta autoridade pública que, infelizmente, ainda tem o hábito de ‘dar carteirada’ e deve ter passado a mesma mania ao filho, sobrinho, serviçal, sei lá o que o rapaz irritado era.

Depois pensei que o carro poderia ser do próprio rapaz irritado que, por um blefe, quis intimidar o rapaz com a farda do laboratório.

Aí, foi que passou pela minha cabeça a idéia de que poderia ser o próprio rapaz irritado uma alta autoridade pública. “Poxa! Se for isso, ‘é este o país que quer sediar a Copa’”? – Pensei eu.

Voltei a ler minha revista. Não conseguia mais ler uma linha sequer. Aquela cena me estarreceu: Será que o fato de ser uma autoridade pública faz do ser maior do que uma lei emanada pelo Poder Legislativo devidamente legitimado pelo povo? Será que deter um título ou estar em um cargo de autoridade pública faz com que o indivíduo, seus filhos, primos, amigos, vizinhos, tios do primo do neto da vizinha da mãe ou até serviçais se tornem imunes aos ditames das normas?

É! Após um período refletindo acabei chegando a uma conclusão: na verdade, aquele carro era de uma pessoa muito mal educada e pobre de espírito!