quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Você não sabe de quem é aquele carro!


Hoje pela manhã fui a um laboratório colher sangue (muito sangue, diga-se por sinal) para realizar alguns exames determinados por minha reumatologista.

Como ontem eu esqueci que hoje faria esses benditos exames, acabei comendo até mais tarde. Logo, só pude retirar o sangue após as 10h da manhã.

Por sorte ou azar, ainda não consegui distinguir do que se trata, cheguei quase 1h antes no laboratório. Logo fui atendida e em virtude do meu ‘esquecimento’ a funcionária pediu para que esperasse até as 10h para só depois seguir até a sala onde se retira o sangue.

Sentei naquelas cadeiras de espera e peguei uma revista. Comecei a ler uma entrevista com Lars von Trier. A história dele ao mesmo tempo em que me comovia, prendia-me a atenção.

Quando já estava no final da entrevista nas páginas amarelas da VOCÊ S.A, minha visão periférica denuncia uma pessoa entrando abruptamente no salão do laboratório.

Aquela cena me fixou o olhar. Observo que aquele homem que entrou apressado, na verdade estava irritado. Logo atrás dele observo um outro rapaz vestido com a farda do laboratório com algo que não consegui identificar nas mãos. Este também não estava muito feliz, porém, se comparado ao rapaz da frente, estava sereno tal qual uma criança em seu sono dos justos.

De repente, ouço o seguinte diálogo:

Rapaz irritado: “Não havia lugar para estacionar, estava tudo cheio. Aí, coloquei aí mesmo!”

Rapaz com a farda do laboratório: “Mas, é garagem, moço. O senhor não poderia estacionar aí!”

Rapaz irritado: “Não poderia? Deixe seu carro aí para você ver! Você não sabe de quem é este carro! Você não sabe de quem é este carro!

Quando olho para fora do laboratório através dos vidros, percebo que existe um carro, uma caminhote, que não consegui identificar modelo e marca, mas que era muito bonita e pomposa, estacionada em frente ao portão da garagem do laboratório e, logo atrás, havia um Fiat Uno branco com o logotipo do laboratório na porta.

Vejo que o rapaz irritado senta no guichê de uma das atendentes e aguarda o resultado de algum exame e a cada segundo olha para fora em direção ao seu carro. Neste instante vejo que o rapaz com a farda do laboratório dá ré no Fiat Uno.

Após receber o exame, o rapaz irritado permanece alguns segundos sentado na cadeira. Levanta-se, vai em direção ao bebedouro e va-ga-ro-sa-men-te bebe água.

Após beber a água, o rapaz irritado sai a passos lentos, entra no seu carro luxuoso e sai em uma ‘arrancada’. O barulho que ele fez parecia de um avião prestes a voar. Deu medo.

Após assistir toda a cena, começo a refletir: De quem seria aquele carro?

O primeiro pensamento que me veio a mente é que aquele carro seria de uma alta autoridade pública que, infelizmente, ainda tem o hábito de ‘dar carteirada’ e deve ter passado a mesma mania ao filho, sobrinho, serviçal, sei lá o que o rapaz irritado era.

Depois pensei que o carro poderia ser do próprio rapaz irritado que, por um blefe, quis intimidar o rapaz com a farda do laboratório.

Aí, foi que passou pela minha cabeça a idéia de que poderia ser o próprio rapaz irritado uma alta autoridade pública. “Poxa! Se for isso, ‘é este o país que quer sediar a Copa’”? – Pensei eu.

Voltei a ler minha revista. Não conseguia mais ler uma linha sequer. Aquela cena me estarreceu: Será que o fato de ser uma autoridade pública faz do ser maior do que uma lei emanada pelo Poder Legislativo devidamente legitimado pelo povo? Será que deter um título ou estar em um cargo de autoridade pública faz com que o indivíduo, seus filhos, primos, amigos, vizinhos, tios do primo do neto da vizinha da mãe ou até serviçais se tornem imunes aos ditames das normas?

É! Após um período refletindo acabei chegando a uma conclusão: na verdade, aquele carro era de uma pessoa muito mal educada e pobre de espírito!

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