Peripécias de uma Jovem Advogada
sábado, 25 de fevereiro de 2012
Falando Sério. Mas, nem tanto
Bom gente, hoje decidi iniciar uma nova coluna aqui no meu blog. Mesmo que quase ninguém leia, achei por bem de esporadicamente falar sobre assuntos sérios. Por isso denominarei esta coluna de “Falando Sério.” Como hoje é o início e eu precisava dizer que quase ninguém ler isto aqui e que eu serei a única autora da nova coluna, e isto é por falta de opção mesmo, tive que complementar o título com uma coordenativa adversativa (espero que esteja certo! Juro que chutei!) que tira um pouco da seriedade dos temas que pretendo tratar aqui.
Confesso que também não sei se vou conseguir ficar séria ou não ser irônica em todos os textos. Fato que também fundamenta a alocação da “Mas, nem tanto.”
Pois bem, o primeiro tema que será tratado é sobre o papel do advogado em casos de grande repercussão na mídia.
O título do texto é “Advogado: vilão ou mocinho”.
Por uma estratégia de marketing (ui, ela usa estratégia de marketing!) só postarei o texto amanhã, ou depois, ou quando der tempo, oras!
Desde já, agradeço a quem tiver paciência de ler!
A terça-feira de carnaval
Pois é. E as peripécias continuam. E não sou poucas, nem muitas. Diria que são razoáveis.
As mais engraçadas sempre envolvem clientes meio carentes de noção de tempo, espaço e de noção, literalmente. Se é que vocês me entendem.
No carnaval, além de ficar doente recebi inúmeras ligações e, NÃO, nenhuma foi para saber se eu estava melhor.
É... Antes que eu relate o teor jocoso de uma das ligações, preciso relembrar da minha sina quanto às consultas “0800” via fone. Eu ainda não aprendi a desligar o fone sem medo de ser feliz. Temo, não sei o quê e nem o porquê, só sei que temo desligar o telefone. Talvez seja um temor inerente ao jovem advogado em início de carreira. O certo é que tenho este temor.
Eu até segui o conselho de um amigo já a mais tempo na militância da advocacia, e me presenteei com mais dois celulares, destinando apenas um para o trabalho. Porém, mesmo assim, o fato é que não consigo desligar o celular do trabalho.
Voltando a ligação que pretendo relatar para vocês...
Pois bem. O cenário era o meu quarto. Era aproximadamente 23h da noite, ou um pouco mais. Minha garganta arranhava e minhas narinas de nada serviam para meu aparelho respiratório. Meus olhos ardiam em chamas. Apesar deste último sintoma, estava me deleitando com minha leitura não jurídica. Estava frio, não sei com precisão se era o clima que estava frio ou se era eu que estava com frio. O bom disto tudo é que eu gosto do frio.
De repente, meu telefone vibra. Um número desconhecido aparece no visor. Como era carnaval, não imaginei de que se tratava de um cliente. Mas, com minha curiosidade colossal, não pude deixar de atender. Para ser sincera, posso colocar nela, na minha curiosidade colossal, a culpa pelo fato do meu dedo indicador apertar o botãozinho verde do meu celular.
Enfim, apertei o dito botão! Antes de eu falar o famoso “alô, boa noite!” um súbito arrependimento pairou sobre mim. Durante os vigésimos de segundos que separaram o ‘levar o cel ao ouvido’ e “alô, boa noite!” pensamentos bombardeavam minha mente. Por pouco, mas, por muito pouco mesmo não desliguei.
“Alô, boa noite!” – Inicio a conversa.
“Boa noite, doutora! Desculpa ligar esta hora!” – Não precisa nem eu dizer que se arrependimento matasse, eu teria morrido neste momento. E se quer saber...NÃO! Eu não desculpei, tá?
“Nada. Sem problemas!” – Maldita educação! Tinha todos os problemas do mundo! Por que eu fui me furtar da verdade?! Talvez seja por isso que o advogado leva a má fama de mentiroso (No meu caso, posso afirmar que é só por isso mesmo).
“Olha, a senhora pode me retornar? É que meus bônus estão no fim e eu preciso muito lhe perguntar uma coisa.” – Calma, gente! Não, eu não morri, tá?! Apenas respirei fundo. Agora, imagine vocês respirar fundo quando o teu nariz está tão obstruído quanto o Congresso Nacional está de funcionários fantasmas. Foi difícil.
“Olhe, eu não estou atendendo esta hora. Me ligue amanhã que podemos marcar uma consulta.” – ‘PERAÍ!’ Eu que não sou médica e nem policial, preciso mesmo dizer que não estou trabalhando às 23h da terça-feira de carnaval?
“Não, fale aqui com minha mãe, ela está muito aperreada!” – Por que não ligou para o “Fala que eu te escuto”,hein? Detalhe: Não tive nem tempo de dizer e desenhar o NÃO mais uma vez.
Bom, por motivos de ética, pararei meu relato por aqui. O que a mãe do sujeito me confidenciou de fato ensejará um processo judicial e envolve questão delicada.
Mas, antes que surja alguma engraçadinho que diga: olha aí! Por isso você deveria mesmo atender ao telefone” quero deixar claro que mesmo sendo uma questão delicada, não era urgente! Poderia, sim, ter esperado para a quarta-feira de cinzas e por uma consulta no escritório, como de fato ocorreu.
Quando digo que é complicado, tem pessoas que ainda acham que eu exagero. Sou realista, e quem me conhece sabe disto.
E assim as peripécias continuam.
As mais engraçadas sempre envolvem clientes meio carentes de noção de tempo, espaço e de noção, literalmente. Se é que vocês me entendem.
No carnaval, além de ficar doente recebi inúmeras ligações e, NÃO, nenhuma foi para saber se eu estava melhor.
É... Antes que eu relate o teor jocoso de uma das ligações, preciso relembrar da minha sina quanto às consultas “0800” via fone. Eu ainda não aprendi a desligar o fone sem medo de ser feliz. Temo, não sei o quê e nem o porquê, só sei que temo desligar o telefone. Talvez seja um temor inerente ao jovem advogado em início de carreira. O certo é que tenho este temor.
Eu até segui o conselho de um amigo já a mais tempo na militância da advocacia, e me presenteei com mais dois celulares, destinando apenas um para o trabalho. Porém, mesmo assim, o fato é que não consigo desligar o celular do trabalho.
Voltando a ligação que pretendo relatar para vocês...
Pois bem. O cenário era o meu quarto. Era aproximadamente 23h da noite, ou um pouco mais. Minha garganta arranhava e minhas narinas de nada serviam para meu aparelho respiratório. Meus olhos ardiam em chamas. Apesar deste último sintoma, estava me deleitando com minha leitura não jurídica. Estava frio, não sei com precisão se era o clima que estava frio ou se era eu que estava com frio. O bom disto tudo é que eu gosto do frio.
De repente, meu telefone vibra. Um número desconhecido aparece no visor. Como era carnaval, não imaginei de que se tratava de um cliente. Mas, com minha curiosidade colossal, não pude deixar de atender. Para ser sincera, posso colocar nela, na minha curiosidade colossal, a culpa pelo fato do meu dedo indicador apertar o botãozinho verde do meu celular.
Enfim, apertei o dito botão! Antes de eu falar o famoso “alô, boa noite!” um súbito arrependimento pairou sobre mim. Durante os vigésimos de segundos que separaram o ‘levar o cel ao ouvido’ e “alô, boa noite!” pensamentos bombardeavam minha mente. Por pouco, mas, por muito pouco mesmo não desliguei.
“Alô, boa noite!” – Inicio a conversa.
“Boa noite, doutora! Desculpa ligar esta hora!” – Não precisa nem eu dizer que se arrependimento matasse, eu teria morrido neste momento. E se quer saber...NÃO! Eu não desculpei, tá?
“Nada. Sem problemas!” – Maldita educação! Tinha todos os problemas do mundo! Por que eu fui me furtar da verdade?! Talvez seja por isso que o advogado leva a má fama de mentiroso (No meu caso, posso afirmar que é só por isso mesmo).
“Olha, a senhora pode me retornar? É que meus bônus estão no fim e eu preciso muito lhe perguntar uma coisa.” – Calma, gente! Não, eu não morri, tá?! Apenas respirei fundo. Agora, imagine vocês respirar fundo quando o teu nariz está tão obstruído quanto o Congresso Nacional está de funcionários fantasmas. Foi difícil.
“Olhe, eu não estou atendendo esta hora. Me ligue amanhã que podemos marcar uma consulta.” – ‘PERAÍ!’ Eu que não sou médica e nem policial, preciso mesmo dizer que não estou trabalhando às 23h da terça-feira de carnaval?
“Não, fale aqui com minha mãe, ela está muito aperreada!” – Por que não ligou para o “Fala que eu te escuto”,hein? Detalhe: Não tive nem tempo de dizer e desenhar o NÃO mais uma vez.
Bom, por motivos de ética, pararei meu relato por aqui. O que a mãe do sujeito me confidenciou de fato ensejará um processo judicial e envolve questão delicada.
Mas, antes que surja alguma engraçadinho que diga: olha aí! Por isso você deveria mesmo atender ao telefone” quero deixar claro que mesmo sendo uma questão delicada, não era urgente! Poderia, sim, ter esperado para a quarta-feira de cinzas e por uma consulta no escritório, como de fato ocorreu.
Quando digo que é complicado, tem pessoas que ainda acham que eu exagero. Sou realista, e quem me conhece sabe disto.
E assim as peripécias continuam.
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
Uma peripécia nada engraçada!
É! Já faz um tempo que não escrevia aqui. O que não faz muita diferença, já que ninguém ler mesmo.
Mas, aqui estou eu. Não sei até quando, mas pelo menos hoje vou relatar algo que me ocorreu por estes dias.
Quem é meu amigo no facebook pôde observar que nesses últimos dias postei algo relacionado ao péssimo atendimento do cartório de registro de imóveis da minha querida comarca de Bayeux.
Pois é. Durante os longos minutos de espera vi uma cena digamos... um tanto quanto esdrúxula.
Uma senhora de 66 anos – eu sei a idade dela porque ela berrou para todos ouvirem – se dirigiu até a escrivã do cartório relatando o seguinte fato: sua sobrinha havia trabalhado para uma determinada família durante 10 anos. Agora, ao que parece, sua patroa havia falecido e só o patrão ainda estava vivo: um senhor de 90 anos. Agora, pelo que entendi, a sobrinha da senhora de 66 anos estava querendo “os seus direitos”.
Pára (sim, faço questão de usar o acento diferencial!) aqui: Consultoria jurídica dada por escrivã do cartório de registro de imóveis?! Lembrei logo daquelas tirinhas da internet que diz: Você não está fazendo isso certo!
Primeira observação que tenho a fazer é: como o direito está distante dos mais pobres! Provavelmente, esta senhora de 66 anos imagina que a ‘dona do cartório’ sabe e pode resolver todos os problemas relacionados ao Direito.
Quando me deparo com situações assim fico imaginando o que deve acontecer com essas pessoas quando ‘caem’ nas mãos de pessoas mal intencionadas.
Pois bem. Após relato o fato, a escrivã, por sua vez, deu sua ‘consultoria jurídica’ a pobre senhora de 66 anos de idade. Querem saber qual foi o conselho (sim, foi um conselho e não uma consultoria)? Lá vai:
Escrivã: - Por que a senhora ou sua sobrinha não casa com este velho?
Senhora de 66 anos de idade: - Não! Eu não gosto dele e nem quero dividir mais meu travesseiro com ninguém!
Escrivã: Mas, a senhora não precisa “furunfufar” até porque ele não faz mais nada. É só pra receber a pensão mesmo!
Meu Paaaaaaaaaaaaaaaaaaaai! Gente! PÁRA O TUDO! PÁRA O MUNDO QUE EU QUERO DESCER!
Primeiro: O que custava a escrivã, que é anos-luz mais esclarecida do que a senhora de 66 anos ter dito: “Olhe, procure um advogado. Caso a senhora não tenha condições de pagar um, procure a defensoria pública. Lá, eles irão lhe dar uma orientação.”?
Isso seria apenas uma questão de cidadania e solidariedade. Estaria mostrando a alguém mais necessitado o lugar correto para buscar seus direitos naquela situação específica.
O pior de tudo foi dar este terrível conselho! Gente, isso não de faz! Expôs a pobre senhora ao vexame, pois todos que estavam no cartório riram e ela saiu de lá sem uma resposta correta e ainda mais envergonhada, humilhada.
Confesso: me senti a pior das pessoas! Por quê?! Porque eu não fiz nada! Assisti a cena como se aquilo fosse normal. Não! Não era normal! Eu deveria ter oferecido ajuda, ou pelo menos criticado. Mas, não! Calada estava, calada fiquei! Não sei se por ainda ser uma jovem advogada ou se foi porque a apatia pós-moderna já atingiu meu coração.
No escritório, parei e refleti: É! Eu falhei por omissão!
Não sei se é a melhor atitude a se tomar, só sei que decidi não mais agir assim. Se isto vai me fazer ser uma advogada melhor? Não, provavelmente não. Infelizmente o conceito de ser o melhor advogado está muito longe dos meus padrões morais e éticos. Contudo, com certeza me fará ser uma pessoa melhor.
Você não sabe de quem é aquele carro!
Hoje pela manhã fui a um laboratório colher sangue (muito sangue, diga-se por sinal) para realizar alguns exames determinados por minha reumatologista.
Como ontem eu esqueci que hoje faria esses benditos exames, acabei comendo até mais tarde. Logo, só pude retirar o sangue após as 10h da manhã.
Por sorte ou azar, ainda não consegui distinguir do que se trata, cheguei quase 1h antes no laboratório. Logo fui atendida e em virtude do meu ‘esquecimento’ a funcionária pediu para que esperasse até as 10h para só depois seguir até a sala onde se retira o sangue.
Sentei naquelas cadeiras de espera e peguei uma revista. Comecei a ler uma entrevista com Lars von Trier. A história dele ao mesmo tempo em que me comovia, prendia-me a atenção.
Quando já estava no final da entrevista nas páginas amarelas da VOCÊ S.A, minha visão periférica denuncia uma pessoa entrando abruptamente no salão do laboratório.
Aquela cena me fixou o olhar. Observo que aquele homem que entrou apressado, na verdade estava irritado. Logo atrás dele observo um outro rapaz vestido com a farda do laboratório com algo que não consegui identificar nas mãos. Este também não estava muito feliz, porém, se comparado ao rapaz da frente, estava sereno tal qual uma criança em seu sono dos justos.
De repente, ouço o seguinte diálogo:
Rapaz irritado: “Não havia lugar para estacionar, estava tudo cheio. Aí, coloquei aí mesmo!”
Rapaz com a farda do laboratório: “Mas, é garagem, moço. O senhor não poderia estacionar aí!”
Rapaz irritado: “Não poderia? Deixe seu carro aí para você ver! Você não sabe de quem é este carro! Você não sabe de quem é este carro!
Quando olho para fora do laboratório através dos vidros, percebo que existe um carro, uma caminhote, que não consegui identificar modelo e marca, mas que era muito bonita e pomposa, estacionada em frente ao portão da garagem do laboratório e, logo atrás, havia um Fiat Uno branco com o logotipo do laboratório na porta.
Vejo que o rapaz irritado senta no guichê de uma das atendentes e aguarda o resultado de algum exame e a cada segundo olha para fora em direção ao seu carro. Neste instante vejo que o rapaz com a farda do laboratório dá ré no Fiat Uno.
Após receber o exame, o rapaz irritado permanece alguns segundos sentado na cadeira. Levanta-se, vai em direção ao bebedouro e va-ga-ro-sa-men-te bebe água.
Após beber a água, o rapaz irritado sai a passos lentos, entra no seu carro luxuoso e sai em uma ‘arrancada’. O barulho que ele fez parecia de um avião prestes a voar. Deu medo.
Após assistir toda a cena, começo a refletir: De quem seria aquele carro?
O primeiro pensamento que me veio a mente é que aquele carro seria de uma alta autoridade pública que, infelizmente, ainda tem o hábito de ‘dar carteirada’ e deve ter passado a mesma mania ao filho, sobrinho, serviçal, sei lá o que o rapaz irritado era.
Depois pensei que o carro poderia ser do próprio rapaz irritado que, por um blefe, quis intimidar o rapaz com a farda do laboratório.
Aí, foi que passou pela minha cabeça a idéia de que poderia ser o próprio rapaz irritado uma alta autoridade pública. “Poxa! Se for isso, ‘é este o país que quer sediar a Copa’”? – Pensei eu.
Voltei a ler minha revista. Não conseguia mais ler uma linha sequer. Aquela cena me estarreceu: Será que o fato de ser uma autoridade pública faz do ser maior do que uma lei emanada pelo Poder Legislativo devidamente legitimado pelo povo? Será que deter um título ou estar em um cargo de autoridade pública faz com que o indivíduo, seus filhos, primos, amigos, vizinhos, tios do primo do neto da vizinha da mãe ou até serviçais se tornem imunes aos ditames das normas?
É! Após um período refletindo acabei chegando a uma conclusão: na verdade, aquele carro era de uma pessoa muito mal educada e pobre de espírito!
quarta-feira, 29 de junho de 2011
Reflexões não-jurídicas: eu quero uma lata de lixo!
Então, o blog é para falar sobre as peripécias de uma jovem advogada, desta jovem advogada que vos escreve. Acontece que hoje vivenciei uma situação que além de me deixar com uma baita dor muscular, deixou-me um pouco revoltada.
Pois bem. Quem mora em Bayeux sabe que aqui só temos uma “grande” avenida. Acho que a única rua movimentada de minha cidade. Como todos sabem, se não sabem ficarão sabendo agora, meu escritório fica nesta avenida. É um lugar desorganizado – não meu escritório, a avenida – como quase toda a cidade.
Próximo ao meu escritório fica uma pequena assistência técnica onde eu compro e reciclo os cartuchos da minha impressora. Eu havia feito o pedido de um novo cartucho, estava demorando, resolvi caminhar até a assistência e saber o que estava acontecendo.
Estava eu mascando um chiclete. Na metade do caminho a goma perdeu o gosto. Decidi jogar fora. Retiro do meu bolso a embalagem da goma, sempre as guardo para que no fim possa embalar a goma mascada e jogar fora. Questão de higiene.
Acontece que ao olhar ao meu redor eu procuro uma lata de lixo. Procuro nos postes de luz, nas esquinas, onde geralmente colocam aqueles coletores de lixo.
Ainda com o chiclete na boca, guardo a embalagem na esperança de encontrar alguma lata de lixo durante minha caminhada.
Nesta altura, o chiclete já havia perdido o gosto e a maciez. Tento não mais mastigá-lo. Mas, minha ansiedade me impede. Continuo a mastigar, não por prazer de sentir o gosto da goma, mas por ansiedade. Se torna um exercício difícil. Meu maxilar começa a doer. Se não me engano, acho até que senti alguns estalos. Continuo a olhar a meu redor. Procuro alguma lixeirinha verde, laranja, vermelha, cor-de-rosa com bolinhas pretas, enfim... qualquer que fosse a cor!
Chego à assistência. Observo o local e vejo que lá também não há nenhuma lixeirinha. Um certo desespero toma conta de minha mente. Começo a mastigar mais rápido. É involuntário, não consigo controlar. Meu maxilar dói ainda mais.
Resolvo meu problema do cartucho e saio da assistência fazendo o mesmo caminho de volta, ainda na esperança ingênua de encontrar uma simples lata de lixo.
Algo tão simples, que em Bayeux se torna tão complexo. Eu só queria jogar meu chiclete fora. Nada demais, mas que se torna uma dura tarefa na terra dos...
É uma reflexão nada jurídica. Ou até pode ser: o direito ao meio ambiente saudável e a obrigação do Poder Público de disponibilizar latas de lixo.
Bom, se alguém ainda quer saber, consegui jogar o chiclete fora. Após embalá-lo, joguei na lixeirinha do meu escritório.
sexta-feira, 17 de junho de 2011
Olha só isso...
Bom, estou eu aqui no meu quarto, ouvindo Geraldo Azevedo e tentando escrever para um determinado concurso que irei participar, quando, de repente, meu telefone toca. Detalhe: são 22h30min. Telefone desconhecido. Parece que o toque do celular muda repentinamente para “perigo, perigo!”
Devagar, as mãos trêmulas, o dedo estático aperta o botão verde.
Eu: - Alô!
A pessoa do outro lado: Oi, Dra. DanieLA (Não sou doutora e meu nome é Danielly!). Olha é que eu emprestei meu cartão de crédito a uma amiga minha e a Polícia pegou ela, aí...
Meu dedo, involuntariamente, aperta o botão vermelho do celular. Não sei quem é a pessoa do outro lado. Será que se depois eu a encontrar a desculpa do celular descarregado ‘cola’? Espero que sim.
Ai ai, é difícil, mas dá para ser feliz sendo advogada e pior: advogando em comarca pequena! rsrs
sexta-feira, 3 de junho de 2011
A primeira vez a gente nunca esquece
Eita povinho da mente suja! A primeira vez que eu vou falar na verdade não é nem a ‘primeira vez’, são as primeiras vezes. São as primeiras vezes do jovem advogado. A primeira audiência, a primeira carga, a primeira causa ganha, a primeira causa perdida...
Pois é. Quando decidi ser minha própria chefa eu já tinha o costume de fazer audiências. As fazia quando estagiava, pelo menos as de conciliação. Quanto as de instrução e outras mais, tive a oportunidade de acompanhar o meu chefe em algumas e de ir assistir outras.
Por tais motivos pensei eu: Ah! Quando eu começar fazer as MINHAS SOZINHA vai ser moleza. Cara! Nunca pensei que eu me enganaria tão bem. Dizem que advogado engana as pessoas (o que é uma verdadeira falácia – uma verdadeira falácia e não uma falácia verdadeira, ok?) e neste momento senti na pele o que isto quer dizer.
Lembro-me que quando marcou minha primeira audiência fiquei super feliz! Achei o máximo. Ocorre que no caminho do fórum, tudo começou a mudar. Deu frio, calafrio, dor de barriga, taquicardia, medo, vontade de desistir, de chorar e gritar: EU QUERO A MINHA MÃE! Mesmo assim, consegui sobreviver. Chegando lá, eu não me olhei no espelho, mas acho que quem olhava para mim pensava que eu estava de luto. E de fato estava, eu acho. Quando ocorreu o pregão, “fulaninho de tal x sicraninho”, eu tremia que nem vara verde.
Este caso era de um amigo do meu tio. Este senhor tem o sugestivo apelido ‘Bola’. Eu só vim descobrir o verdadeiro nome dele quando tive que fazer a petição do seu processo. Mas, quem disse que eu lembrava o nome dele? Naquela hora só lembrava que ele era o bom e velho ‘Bola’. E aconteceu exatamente isto que você está pensando. Durante a audiência eu o chamei o tempo inteiro de “Seu Bola”. Hahahahaha. Pior era ver o sorrisinho do advogado da outra parte de da juíza e eu sem entender o porquê. Foi triste, me senti as piores das pessoas. Hoje percebo que não foi tão ruim assim, do contrário eu não teria assunto para postar aqui.
Eu acho que a primeira audiência é a primeira vez mais emblemática do jovem advogado. De repente dá uma crise de ‘gagueira’ na gente que eu vou te contar, viu? Você não sabe onde colocar as mãos, os pés não param e parece que tudo que você aprendeu não vale de nada ali.
Mas, sabe a melhor parte disto tudo? É quando você vai a uma audiência como se estivesse indo tomar um shop (no meu caso um suco de goiaba) em um bar. É sério! Com o tempo se torna tudo tão natural. E nem precisa de muito tempo para você se acostumar. Pelo menos para os advogados vocacionados, esse ‘costume’ chega logo, logo. Hoje fiquei boa da minha gagueira motivada pela audiência. Bom, naturalmente eu já sou meio gaga, mas nada demais, só um charminho. Apesar de ter menos de 01 ano advogando, posso dizer que já fiz muitas audiências e hoje fico extremamente relex neste ato processual.
Existem outras primeiras vezes. A primeira peça, por exemplo. Apesar de eu sempre ter estagiado em escritórios de advocacia e, modéstia a parte, sempre terem elogiado minhas peças, lembro-me da primeira petição que fiz. Redigi e apaguei uma 300 (trezentas) vezes. E olhe que era um caso até simples. Meu cliente tinha um bom direito. Mas, eu queria atingir a PERFEIÇÃO, como se fosse possível, né? Pois então. Depois de muita luta, terminei. Imprimi as três vias e segui ao fórum.
Ao chegar no balcão do fórum ansiosíssima para distribuir minha primeira petição a servidora folheia vagarosamente enquanto no meu rosto eu estampo um sorriso de “caramba! Eu fiz um bom trabalho!”. De repente ela fala: A advogada esqueceu de assinar. Putz! Como eu poderia ter feito isto?! É que eu era tão acostumada a fazer peças e não assiná-las (coisas de estagiário) que acabei esquecendo este pequeno detalhe.
Então eu fiz cara de “Nossa! Estou com tanta trabalho que estou esquecendo os detalhes” e disse: “Ah! Deixa eu assinar”. Gente! Esta mulher olhou para mim com uma cara de “como é que é?!!!” e disse: “Você é a advogada”. Eu: “Sim, sou”! Ela: Nossa! “A senhora me desculpe, mas eu pensei que a senhora fosse estagiária e tivesse no mínimo uns 18 anos.” Eu: Oh! Coisa boa! Muito obrigada!”
Bom, qual mulher não fica feliz em parecer mais nova, né?! Porém, naquele momento eu nem pensei na parte boa, pensei logo: “putz! Já era credibilidade.”
Tem outras primeiras vezes do jovem advogado. Deixarei para comentar em outro momento. Por enquanto é só isso.
E nunca esqueça: mesmo que seja um advogado, é possível ser feliz e dormir com a consciência tranqüila!
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